Cartas Noturnas

Se por um motivo me considero ousado nas palavras que lhe escrevo, que ouses considerá-las por mim, pois ficará somente à minha custa tudo que há de mimoso nas palavras que, por ora, estive tão inspirado em escrever. Inefável se torna somente aquilo que, depois daquele dia, despertou do mais íntimo de meu ser, a paixão efervescente. Não me culpo pelo o ocorrido, já que para o sentimento de tal natureza não há um controle resoluto. Mulher de olhos amendoados, e lábios melífluos e doces como a mais pura Ambrósia assim tão almejada pelos Deuses do Olimpo, o que fazes para, por assim dizer, mover minha alma em pró das paixões?
Conformado que tudo se deteve na vivência inebriante que criamos, ainda sim jazem, em minha consciência, os resquícios arrastados do passado ao presente. Todo o seu perfume que a mim nem a você pertence, mas que aos meus ilusórios sentidos dão tal privilégio, que porventura não se saciam e nem se curvam à desfunção em sentir sua flagrância, me enfraquece ao tentar resistir à avidez por sua lembrança. Num rumo sem um itinerário definido, em entrechoques com outras pessoas, e quando delas sinto um aroma, um olhar de soslaio se faz ao tentar achar a quem tal perfume pertence e quando num último momento se desfaz o que procurava, já que meu olhar se enganou com tanta veemência, eu me volto para a lembrança tão intangível e pura, porque pelo meu ser consciente lutarei em favor ao esquecimento de seu ser, aliviando minh’alma das paixões que tanto me atormentam.
(AUTOR:Luciano Constante Marques das Graças)